terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O que você realmente vê?

Viagem


O sol era doce contra as minhas bochechas e a brisa suave fazia sensações estranhas se espalharem pelo meu corpo. A areia fina da praia era um tapete macio sob o meu corpo e por um momento eu apenas me deixei afogar na sua intensidade. O som das ondas invadia meus tímpanos acalmando a euforia que me acompanhava desde sempre.

Levantei-me para observar o movimento na praia por entre meus óculos escuros. Poucas pessoas caminhavam deixando as ondas banharem seus pés, abençoando-os de alguma forma. Deixei meus olhos vagarem por entre os transeuntes e tive minha atenção furtada por um casal de senhores que caminhava a passos lentos, como se cada momento ali fosse precioso demais para ser perdido com o desespero. Seus olhos sorriam conforme se olhavam, a mão preciosamente segura uma na outra e o ritmo dois era um só como se tivessem sido programados para estar lado a lado ou feitos sob o mesmo modelo.

Coloquei-me a pensar o que de fato eu havia visto naqueles pequenos gestos. Amor? Obviamente que ali existia. E muito. Mas, o que de fato é o amor? Sempre pensei nele como aquela euforia que nos preenche e aquela calmaria que nos conforta. Contrastes. Mas, vendo aquele casal, tento entender se o amor não é um intrigante quebra cabeças no qual descobrimos as peças aos poucos – conforme descobrimos a nós mesmos – e no qual cada uma delas representa algo que colocamos, algo que tiramos, algo que nos acrescenta. Porque o amor não pode ser posse, visto que pertencemos apenas a nós mesmos. Nem submissão. Ele é igualdade e respeito. É o forte que se torna fraco. É o pequeno que torna grande. É aquela mistura de cores e gêneros. É saber cair e levantar e também ser levantado.

Talvez por isso sejam poucos aqueles que podem vê-lo. Senti-lo. Estamos sempre tão preocupados em mostrar coisas para o outro, em ser melhor que os outros que nos esquecemos de nós mesmos. Das nossas relações, da nossa vida.

Talvez o amor seja como um dia fazendo algo fora do comum. Enquanto alguns se preocupam em viver suas rotinas programadas, em obter para ostentar, outros se permitem aventurar sem si mesmos, viver outras coisas. Amar. Porque são nessas estradas inusitadas que encontramos a nós mesmos e qual a melhor forma de saber do que somos capazes do que nos conhecendo?

Ou talvez o amor seja como um dia de sol. Enquanto alguns se preocupam em evita-lo outros tentam sentir sua intensidade. Saem para a varanda, deitam-se na areia na praia, caminham pelas ruas vendo o que ninguém vê. Procurando o que ninguém consegue encontrar. Talvez o amor seja para os loucos. Talvez os loucos sejam os verdadeiros sãos.

Cambaleei um pouco ao me levantar da areia. As ideias preenchiam minha mente depois daquele pequeno descanso na praia. Não consegui deixar de sorrir e agradecer por ter trocado o dinheiro do celular que eu tanto ansiava por esse pequeno momento só meu. Eu ainda podia trabalhar e pensar em compra-lo posteriormente, mas o que vivi nesses pequenos instantes era raro demais para se repetir. E as férias estavam apenas começando.

Autora: Erica Azevedo

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