sexta-feira, 1 de março de 2013

Contagem regressiva: Dia 132


Já faz algum tempo que venho tentando colocar no papel o que minhas experiências durante o intercâmbio tem significado. As vezes acho até que consigo fazer isso de forma poética, mas em outras são apenas traços de inspiração em alguns dos meus livros.
Bom, o meu tempo nesse país está se esgotando e a partir de hoje eu terei exatamente 132 dias para aproveitar tudo que ainda me resta dessa vida andaluz (vivo no sul da Espanha, região da Andaluzia). E para ilustrar cada dia, trarei pequenos textos feitos todos os dias e baseados em situações do cotidiano. Espero que vocês gostem.



Fragmentos ao vento

"... O trem que chega é o mesmo trem da partida. A hora do encontro é também despedida..."
 Maria Rita - Encontros e Despedidas


O vento frio não parece condizer com os 6 graus que fazem lá fora. Sinto se espalhar pelo meu corpo uma sensação que faria com que alguns pensassem que eu sobrevivi a nevascas inteiras. Sofro de hipotermia da alma. E essa sensação que me congela por dentro não se relaciona com a minha personalidade. Porque não consigo deixar de pensar que, de certa forma, eu deveria estar demonstrando que estou sofrendo.
Não gosto de despedidas.
Não importa o que as pessoas me digam a respeito delas, eu simplesmente não consigo olhar para o rosto de um amigo antes que ele se perca na multidão que o leva para longe de mim. Sei que todos esses processos fazem parte da vida, mas acho que ao longo dos anos criei uma barreira contra esse tipo de dor. É que, quando o adeus se aproxima, eu me afasto como se esses dias longe um do outro possibilitasse um processo contrário de amizade. Penso que, talvez, cada dia longe seria como cada dia perto e cada dia longe faria o processo reverso, no qual, ao invés de nos aproximarmos pelos acontecimentos do destino, nos separaríamos para que a dor do adeus não fosse tão forte, até chegar ao ponto de que aquele para o qual eu digo adeus na multidão fosse apenas mais um entre milhares.
Mas a vida não funciona assim.
E hoje, olhando para a rua deserta, eu sinto mais um fragmento do meu coração se espalhar pelo mundo, como tantos outros já o fizeram há poucos dias atrás. 


Autora: Erica Azevedo

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe uma autora feliz, comente :)